'Congé' é uma palavra que se usa muitas vezes aqui. A política de férias na Argélia é boa, sendo estas por norma longas, sobretudo se se trabalhar no sul. A rotatividade do pessoal do laboratório argelino que fiscaliza o nosso trabalho é grande, e quando partem de férias fazem-no por períodos de um mês ou dois. Em meados de Outubro, foi a minha vez de ir de férias a Portugal. "Moi? Congé."
Quando aterrei em Argel às tantas da madrugada e caía uma chuva miudinha e fria enquanto eu esperava que me viessem buscar, não fazia ideia que, ao chegar a Lisboa no dia seguinte me ia sentir quentinho por dentro. Não devido ao sol, mas ao aconchego e à pressa de viver uma semana intensamente. Não imaginava o prazer que ia sentir ao ter dificuldade em vencer o trânsito da rotunda do relógio, ao acelerar na autoestrada rumo a casa, ao beijar a família, ao abraçar o cão, ao almoçar num restaurante, ao abraçar os amigos, ao tomar um café no café de sempre, ao sair à noite, ao beber uns copos, ao combinar tanta coisa com tanta gente, ao ouvir reprimendas das pessoas com quem não tive tempo de estar, ao contar histórias, ao ouvir histórias, ao dormir num quarto a sério, ao comer comida a sério, ao comer comida de plástico, ao sentir-me confortável finalmente, ao pensar que afinal as saudades eram muitas, ao pensar que afinal tinha mais saudades ainda do que pensava, ao pensar que as saudades não são mais que dias de chuva que fazem dar valor aos dias de sol, ao pensar que a chuva miudinha e fria com que Argel me recebeu às tantas da madrugada não era mais do que um abraço de boas-vindas, ao pensar que afinal de contas o deserto não é assim tão duro, ao lembrar-me - que diabo - que o deserto não custa assim tanto, ao verificar que se eu não fosse tão distraído assim tinha reparado há uns meses atrás no bom presságio que era os dinossauros coloridos do relógio da minha cozinha estarem a sorrir para mim.
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3 comentários:
Pois pois! Faltou contar o pikeno "accident" que o seu telemóvel teve na primeira noite de regresso a Portugal!!!!
Gostei muito de ler estes desabafos
também tenho noites que durmo mal a pensar no meu mano, pois ele é seu colega.É muito bom quando ele está para chegar o pior é quando ele vai enbora.Somos muito amigos e depois as lágrimas caiem.Força o meu mano é o Alexandre Cruz
Gostei muito de ler estes desabafos
também tenho noites que durmo mal a pensar no meu mano, pois ele é seu colega.É muito bom quando ele está para chegar o pior é quando ele vai enbora.Somos muito amigos e depois as lágrimas caiem.Força o meu mano é o Alexandre Cruz
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