10/11/2007

O mercado

São quase clichés as descrições de mercados em sítios exóticos, e toda a gente que me conhece sabe que sou uma vítima fácil de todos os clichés.

Toda a gente sabe que, quando se compra uma coisa num mercado, está-se na realidade a comprar duas: o artigo em si e o seu cheiro. O aroma das coisas é sempre mais intenso nesses sítios e povoa toda a atmosfera e envolve as lojas, quiosques e balcões, pelo que o dinheiro que se paga pelo que quer que seja que se compre, paga também o cheiro.

O mercado de Tamanrasset não é excepção: num grande terreno de terra batida e lancis mal amanhados, as lojas foram feitas em tendas que formam pequenas ruas e quarteirões de pano. Vende-se de tudo, e mesmo os artigos mais correntes que não dispõem da classificação eufemística de 'artesanato' são de qualidade duvidosa: perfumes, tapetes, tabaco, isqueiros, roupa, calçado, relógios, óculos de sol, brinquedos, produtos de higiene, alimentos. A falsificação de marcas é tanta e tão evidente que leva o visitante a interrogar-se se haverá alguma coisa genuína ali. A resposta depressa lhe chega ao nariz: o aroma de todo o comércio e mesmo das centenas de pessoas que falam alto, cozinham nas ruas e abandonam a loja sem risco de roubos mistura-se no ar e vai conduzindo o freguês por entre as lojas de paredes de tecido, para descobrir que, afinal, não existem apenas perfumes mas sim mil perfumes, não existem apenas tapetes mas sim mil tapetes, não existem apenas relógios, óculos, pulseiras, mas sim mil jóias que, não sendo de ouro ou pedras preciosas (abre-te Sésamo), possuem o mesmo brilho de um tesouro. Semeado em bancadas de madeira e tapetes numa esperança de que amadureçam na vontade de um comprador e ao alcance de um punhado de dinares.

Por isso, quando alguém vai comprar algo tão simples como um maço de cigarros, mesmo que o tabaco seja fracote, faz sempre bom negócio. O preço também nunca é elevado por aí além e existe sempre uma certeza de que os aromas, esses, não carecem de marca registada.

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