Não raras vezes, assisto a árabes a rezar. Largam o que estão a fazer, ajoelham-se no chão, alguns estendem um tapete pequeno antes dos joelhos e prestam adoração a Deus. Fazem-no em qualquer lado: na mesquita, em casa, no deserto, na rua, no trabalho. O sol indica-lhes Meca: a Arábia Saudita fica para leste, por isso de manhã rezam virados para o sol e à tarde de costas para ele. Em Tamanrasset, tal como em todo o país, ouvem-se os cânticos a sair dos megafones que há nas torres das mesquitas. As palavras – ininteligíveis para mim – são lentas, arrastadas e melancólicas, e espalham-se num eco por todas as ruas, misturando-se com o ar e com o calor, entranhando-se na cidade.
Amanhã, dia 13 de Setembro, começa o Ramadão. Segundo exigem os princípios islâmicos, o fiel deverá passar trinta dias sem comer nem beber desde a alvorada até ao pôr-do-sol. Também deverá abandonar o álcool, o tabaco, o sexo e as pastilhas elásticas. Todo este jejum é seguido religiosamente – literalmente! – pela maioria dos árabes, e como estamos no país deles temos que nos adaptar. O refeitório irá estar aberto de madrugada e, à porta, foi afixada a informação das horas exactas da alvorada e do ocaso.
Segundo diz quem já viu, os árabes passam mal os primeiros dias do Ramadão. Trocam os horários ao organismo e sofrem com a fome, até se habituarem ao novo regime de jejum ao fim de uns quatro ou cinco dias. Não podem sucumbir: se desrespeitarem um dia do Ramadão, têm que jejuar durante sessenta dias em vez de trinta. Se desrespeitarem esses sessenta dias, sujeitam-se a cento e vinte, e assim por diante até ao ‘mais infinito’. Os doentes, as grávidas e os viajantes estão dispensados de fazer o Ramadão.
Como todas as questões religiosas, a decisão de fazer ou não o Ramadão é pessoal e depende da fé. Há árabes que não seguem a religião islâmica, à semelhança do que acontece com muitos católicos em Portugal. No norte da Argélia, região mais ocidentalizada, a taxa de praticantes é menor do que no sul. Os jovens também têm tendência a ser mais liberais neste aspecto. Porém, todos os argelinos a quem pergunto se vão fazer o Ramadão – e pergunto a bastantes – respondem que sim. De uma forma geral, os árabes levam a religião mais a sério que nós. Mas até um colega nosso, o Ezequiel, português de gema que se converteu ao islamismo há algum tempo, vai fazer o Ramadão.
Hoje ao jantar, o Nuno, colega nosso, conta que perguntou ao rapaz argelino que começou agora a trabalhar connosco se ia fazer o Ramadão. Ele respondeu que sim: “bebendo whisky com fartura”.
12/09/2007
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