Tamanrasset – ou Tam, como carinhosamente lhe chamam os argelinos – é a maior cidade do Saara central e a mais isolada da Argélia. Considerada a “capital do Saara”, devido à existência de água e solo fértil em quantidades invulgarmente abundantes em climas desérticos e à sua história como entreposto comercial de várias rotas do deserto, Tamanrasset sobrevive com base no comércio e na agricultura e alberga cerca de 70.000 habitantes (sendo a maior parte constituída por Tuaregues). Fica situada a 1.400 metros de altitude nas Montanhas Hoggar (ou Ahaggar), o que torna o seu clima um pouco mais ameno do que noutras regiões do deserto. A paisagem é maioritariamente constituída pelas rochas vulcânicas das Montanhas Hoggar. Como todas as grandes cidades da Argélia, Tamanrasset tem um aeroporto doméstico que disponibiliza apenas voos da Air Algerie para Argel, que fica a cerca de 2.000km.
Pelo que pude ver desde que aqui estou, Tamanrasset é uma cidade grande demais para ser uma vila, embora tenha o aspecto de uma. As casas são baixas e têm tons de castanho, vermelho e amarelo. Os lancis dos passeios são pintados às riscas vermelhas e brancas. As ruas principais são pavimentadas e as secundárias são em terra batida. Muitos passeios são cobertos por arcadas vermelhas e brancas encimadas por traves de madeira, extremamente bonitas. Há imensas lojas em todas as ruas, como cafés que servem apenas água, chá e sumo, pizzarias, frutarias, mercearias, mercados, lojas de ferragens, roupa, souvenirs, pneus e peças para automóveis: todas situadas em edifícios de aspecto descuidado, excepto as lojas das redes móveis argelinas, como a ALG Mobilis e a Djezzy, que têm um interior cuidado, limpo e modernamente mobilado como aquelas a que estamos habituados em Portugal. Durante o dia, a cidade fervilha com actividade. Argelinos do sul e do norte, malianos que fugiram do seu país à procura de vidas melhores, bandidos do deserto que procuram passar despercebidos e tuaregues que descansam do deserto misturam-se nas ruas, praças e esplanadas, criando uma mistura engraçada de povos e cores. É frequente verem-se tuaregues de óculos de sol ao volante de jipes ou a falar ao telemóvel. Os homens andam de mão dada e cumprimentam-se com dois ou quatro beijos na cara, dependendo do grau de amizade. E, de vez em quando, encontra-se um turista europeu no meio desta caldeirada de culturas africanas.
O parque automóvel é também sui generis. Exceptuando os jipes de instituições estatais e uma ou outra carrinha todo-o-terreno, quase todos os carros estão a cair aos bocados. Há imensos Peugeots e, entre estes, há imensos 504. O trânsito é muito mais calmo que o de Argel, embora seja igualmente desordenado: é mais fácil habituarmo-nos do que pensamos. Uma coisa que me faz imensa confusão é que, na Argélia, quem entra numa rotunda é quem tem prioridade, obrigando quem já está na rotunda a ceder passagem. O que vale é que, como a nossa obra tem algum relevo para esta zona e a nossa empresa veio dar muito emprego à população, somos bastante considerados pela cidade e a polícia é branda. Há imensas barreiras policiais por toda a cidade, como também já havia em Argel: abrandamos, se for de noite pomos os mínimos e acendemos a luz do habitáculo para que nos consigam ver a cara, cumprimentamos e passamos.
Há cabras vadias à solta pela cidade, que é frequente encontrarmos a comer papel, plástico e lixo diverso. Não creio que seja uma estratégia das autoridades governamentais de Tamanrasset para tentar limpar o imenso lixo que há por toda a parte: as cabras vêm do deserto que rodeia a cidade, que tem alguma vegetação, à procura de comida. São fáceis de encontrar numa oued grande, cheia de lixo, que atravessa Tamanrasset.
Trabalho com vários argelinos de Argel e nenhum deles gosta de Tamanrasset, apesar de entenderem que os europeus possam a achar engraçada. É realmente um destino turístico muito exótico, embora numa perspectiva argelina seja apenas uma cidade pobre, muito militarizada e subdesenvolvida. Muitos argelinos de Tamanrasset querem sair daqui para sempre, e muitos europeus querem vir para aqui uma semana ou duas: e esta é a melhor descrição que consigo fazer.
13/08/2007
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