Tudo aqui é muito diferente e vêem-se imensas coisas novas todos os dias, mas o que me espantou mais até agora foi ver um velhote árabe a procurar água em pleno deserto.
Para abastecer de água as máquinas da frente de trabalho e o estaleiro futuro, é preciso abrir poços no deserto. A wilaya (divisão administrativa da Argélia que equivale aproximadamente ao distrito português) tem um departamento de recursos hídricos que nos indicou algumas zonas onde há probabilidade de encontrar água. Vão ser abertos três furos para captação de água ao longo do traçado, todos com mais de cem metros de profundidade.
Hoje tive oportunidade de visitar o local onde vai ser aberto o primeiro furo. Já lá estava a maquinaria necessária à operação, restava apenas saber o local exacto onde furar. Essa tarefa tinha sido delegada ao Belaissa, um velhote de Argel que quase não sabe falar francês. O Belaissa pega num fio com duas chaves de porcas atadas na ponta, põe este aparato a girar e começa a caminhar ao acaso. Depois de dar umas voltas pára num sítio e aponta para o chão, sorrindo. Apanha várias pedrinhas do chão e começa a deixá-las cair uma a uma, enquanto continua a girar o fio com as chaves de porcas na ponta. Passados uns segundos, pára de rodar as chaves e conta as pedras que lhe ficaram na mão: quinze. Informa-nos então de que há água a quinze metros de profundidade. Perguntei-lhe como é que ele fazia aquilo e ele sorriu ao apontar para o céu e depois para o seu coração. Disse-me uma palavra em francês: sangue. Olhei para ele com um sorriso de espanto enquanto o Vasco, um colega meu, me explica:
- Temos que acreditar nesta gente. Há uns dias tentei fazer o mesmo e girei o fio, mas ele disse-me para não o girar, para não fazer força, e o fio parou. Depois, ele agarrou-me no pulso, sem rodar nem nada, e as chaves começaram a rodar.
Costumo ser céptico nestas coisas, mas a verdade é que o Belaissa tem algo que me leva a acreditar nele. Não sei se é o seu ar bonacheirão, se é a sua experiência nestas andanças, se foi a forma humilde como apontou para o céu e depois para o seu peito: não sei. Sei é que vou andar bastante atento a este furo.
12/08/2007
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2 comentários:
Ainda não tinha tido oportunidade de comentar o teu blog, mas não posso deixar de o fazer! Está cada vez mais delicieux... literalmente falando. Para não variar a tua escrita consegue tornar as coisas mais simples em algo realmente impressionante! (às vezes em algo execrável :P - txarannnn mais uma vez consegui utilizar bem a palavra!!!!! e agr era a tua vez de fazeres akele drummer rumble!!!! ) ;)
Gros bisou!
Amigo Rui
O trabalho dos vedores foi coisa que sempre me fascinou, mas cuidado não vá o homem encontrar algum pipe de petróleo. convido-o a ver http://www.janelanaweb.com/humormedina/pc_manual1.html
Um abraço
João Moleiro
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